QUEM É O PRINCIPAL FREIO NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE MOÇAMBIQUE?

Após conquistar a independência e o fim da guerra civil, Moçambique abriu-se um pouco ao investimento estrangeiro. Naturalmente, os primeiros investidores foram os sul-africanos. Um fenômeno bastante natural, afinal, os africanos brancos conhecem a África Subsaariana; afinal, estão aqui há mais de 300 anos.

QUEM É O PRINCIPAL FREIO NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE MOÇAMBIQUE?
QUEM É O PRINCIPAL FREIO NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE MOÇAMBIQUE?

Após conquistar a independência e o fim da guerra civil, Moçambique abriu-se um pouco ao investimento estrangeiro. Naturalmente, os primeiros investidores foram os sul-africanos. Um fenômeno bastante natural, afinal, os africanos brancos conhecem a África Subsaariana; afinal, estão aqui há mais de 300 anos. Eles compreendem bem a mentalidade dos habitantes dessa região, incluindo Moçambique, e entendem o modo local de fazer negócios. Seria de esperar que também conhecessem as culturas locais, que são muitas em Moçambique.

Moçambique faz fronteira com a África do Sul ao sul e sempre foi um destino turístico popular para africanos brancos. Parecia que nada melhor poderia acontecer a Moçambique: sul-africanos com bom conhecimento, inclusive prático, dinheiro e fundos para investimento. A melhor solução para um dos países mais pobres do mundo, devastado por várias guerras durante 30 anos.

Um europeu médio, sem conhecimento da região, pensa que a África do Sul é comparável a países como Inglaterra, França, Bélgica ou Alemanha. Esse investidor acredita que a África do Sul tem as mesmas leis comerciais, soluções e ética empresarial que os europeus. Ele considera os sul-africanos brancos culturalmente próximos e confia que possuem a mesma abordagem para questões sociais e econômicas. E é aí que começa o problema.

A África do Sul continua sendo um país de enorme segregação social até hoje. Por exemplo, casamentos mistos entre brancos e negros são raros. O sul-africano branco médio não fala nenhum dialeto ou idioma local além do africâner e, às vezes, tem até dificuldade com o inglês oficial. Para sobreviver como empreendedor na África do Sul, é necessário manobrar entre leis absurdas impostas pelo governo, não confiar em ninguém e, para funcionar no mercado, pagar subornos.

Os primeiros investimentos no turismo de Moçambique foram sul-africanos. Pequenos supermercados, lojas e vendas de mercadorias foram criados por sul-africanos para turistas sul-africanos. De maneira informal, pequenos guetos para turistas brancos sul-africanos começaram a surgir. O símbolo disso é uma placa em quase todas as entradas de hotéis ou restaurantes com a frase: "Direito de admissão reservado". Para o turista europeu médio, esse tipo de aviso é absolutamente bizarro. Recentemente, perguntei ao dono sul-africano de um pequeno restaurante em uma cidade costeira moçambicana o que aconteceria se eu entrasse com uma noiva negra (sou um rapaz branco da Suécia). Ele respondeu: "Bem, eu o convido cordialmente, vamos atendê-lo da melhor forma possível, mas eu perderia completamente o respeito por você".

Isso não impede que sul-africanos brancos saiam com garotas negras tarde da noite, quando ninguém está vendo. Mas à luz do dia, oficialmente, não! Com essa abordagem enraizada, eles não conseguem criar casamentos mistos, negócios mistos, nem divertir-se juntos. Ao criarem enclaves e empreendimentos apenas para si, não contribuem de forma alguma para o desenvolvimento ou educação das regiões onde estão. Se adicionarmos a isso o conhecimento sobre como subornar, burlar a lei e desonrar acordos – especialmente com comunidades locais – temos a imagem de um típico empresário que está focado apenas em lucros, sem nenhum sentimento pela realidade ao seu redor. Pelo contrário, ele aprofunda as diferenças culturais que o separam da comunidade local.

Recentemente, houve muito barulho na internet sobre a empresa Sasol, acusada de práticas antiéticas com seus funcionários e de não cumprir acordos com comunidades locais. A notícia chocante foi que, para conseguir emprego na Sasol, era necessário pagar um suborno ao recrutador. A diretoria e os gerentes locais da empresa sabiam perfeitamente desse procedimento e, provavelmente, lucravam com ele. Essa prática também era conhecida em outras empresas sul-africanas, tanto na agricultura quanto no turismo.

Já ouvimos frequentemente falar de casos em que uma pessoa era contratada em uma empresa, supostamente com impostos pagos à administração estatal, mas, no final, descobria-se que esses impostos nunca foram realmente pagos. Claro, tudo isso era feito por gerentes moçambicanos locais, mas, em muitos casos, os gerentes sul-africanos estavam cientes do procedimento e não se importavam, desde que a empresa gerasse lucro.

Qualquer investidor que invista na Escandinávia, França ou Grã-Bretanha aprende e se beneficia da cultura local, além de aprender o idioma local para funcionar de forma independente tanto nos negócios quanto na esfera social. Criar enclaves apenas para si e para seus negócios nunca leva ao verdadeiro desenvolvimento econômico. Essa filosofia é o principal freio de qualquer desenvolvimento social, cultural e empresarial. Ela aprofunda as diferenças culturais, frustrando tanto o investidor quanto o empregado.

Negócios éticos e verdadeiros produzem desenvolvimento econômico, educação, e um ambiente amigável e pacífico. Por outro lado, a criação de enclaves e guetos gera desconfiança e incompreensão mútua, levando, inevitavelmente, a problemas.

Eric Rasmus Sőder é um globetrotter sueco e escritor conhecido por seu olhar perspicaz e sua caneta afiada.

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